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LG anuncia fim da produção de celulares em todo o mundo

Terceira maior fabricante do País, a empresa sul-coreana tem fábrica em Taubaté (SP), com cerca de mil trabalhadores, sendo 400 deles dedicados à produção de smartphones

Foto do author Bruno Romani
Foto do author Guilherme Guerra
Por Bruno Romani e Guilherme Guerra
Atualização:
LG deverá focar em outros negócios, como televisores e eletrodomésticos Foto: Sergio Perez/Reuters - 27/2/2018

A fabricante sul-coreana LG anunciou nesta segunda-feira, 5, que irá abandonar a produção de celulares em todo o mundo, alegando prejuízos acumulados da ordem de US$ 4,1 bilhões ao longo de 23 trimestres consecutivos até o fim do ano passado. A notícia já era esperada pelo mercado, que desde janeiro aguarda o anúncio da empresa.

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"Depois de avaliar todas as possibilidades para o futuro do nosso negócio de celulares, o Headquarter Global decidiu por fechar esta divisão a fim de fortalecer sua competitividade futura por meio de seleção e foco estratégico", afirma a LG Brasil em declaração à imprensa. A empresa continuará a atuar nos segmentos de televisores e monitores, produtos de áudio, eletrodomésticos e soluções telas corporativas.

Segundo apurado pelo Estadão com fontes do mercado, a marca no País ampliou a fatia no mercado de smartphones e totalizou 12%, atrás apenas da Samsung e Motorola, líderes no segmento. As fontes esperam que outras participantes abocanhem a fatia da LG e cresçam em participação neste ano, sem haver uma redução do mercado. Marcas menores, como Asus, TCL e Positivo, podem se beneficiar nesse movimento.

Como consequência da desistência da LG, toda a linha de lançamentos de novos smartphones da casa, incluindo o modelo dobrável LG Rollable, deve ser interrompida e não chegará às prateleiras das lojas. Outros negócios mundiais da empresa, como baterias e componentes automotivos, deverão ser o foco e devem absorver os trabalhadores da divisão de smartphones para que não sejam demitidos.

No Brasil, no entanto, o cenário é incerto. Produtora de monitores e celulares, a fábrica da LG no País, localizada em Taubaté (SP), abriga cerca de mil funcionários, sendo 400 deles trabalhadores diretos na produção que está sendo encerrada, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau).

Devido aos rumores de que a sul-coreana fecharia a divisão de celulares, os trabalhadores brasileiros decretaram "estado de greve" em 26 de março para pressionar a fábrica sobre o futuro da instalação — "estado de greve" não é a paralisação dos trabalhos, e sim "um alerta", explicou o sindicato ao Estadão. O Sindmetau tem reunião marcada com a LG na próxima terça-feira, 6. 

Greve

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Os trabalhadoras da Sun Tech, em São José dos Campos, da Blue Tech e da 3C, ambas em Caçapava, entrarão em greve nesta terça-feira, 6. As três empresas são fornecedoras da LG, e os seus funcionários querema pressionar a empresa sul-coreana a preservar empregos e direitos.  Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a medida deve levar ao fechamento de 430 postos de trabalho nas fornecedoras, sendo a maioria ocupados por mulheres.

"O Sindicato vai lutar pela manutenção dos postos de trabalho. Caso se consolide o fechamento das fábricas, a entidade reivindica que todos os direitos pagos aos trabalhadores da LG sejam estendidos às funcionárias das fornecedoras", diz nota do sindicato. 

No início da noite desta segunda-feira, a LG informou em nota que começou as negociações com o sindicato da categoria para implementar compensação adicional aos direitos já vigentes e que avalia a possibilidade de realocar e transferir os trabalhadores para outros segmentos ou rescindir os contratos de trabalho.

Histórico

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Apesar de ser a terceira maior fabricante de smartphones no País, a LG vem encolhendo ano a ano no mercado mundial. Nos mercados americano e sul-coreano, por exemplo, a companhia ocupou 1% da fatia em 2020. Atualmente, os cinco principais fabricantes do mundo são Samsung, Apple, Huawei, Xiaomi e Oppo, segundo dados da consultoria Gartner.

A saída da LG do segmento de smartphones encerra também o período em que gigantes dos eletrônicos brigaram por esse mercado. Com exceção da rival Samsung, todos os nomes que disputaram espaço no mundo dos celulares pós-iPhone deixaram de existir. A Nokia e a BlackBerry derreteram até perder importância. No mês passado, a Sony abandonou a maioria dos mercados. A Motorola foi vendida para o Google em 2012 e, posteriormente, para a chinesa Lenovo, o que permitiu uma intervenção que garantiu a sobrevivência e relevância da marca. 

Apesar de seus aparelhos não serem tão marcantes como de alguns concorrentes, a LG fincou o seu nome na história da telefonia celular: a empresa foi a primeira a lançar um smartphone com tela sensível ao toque, antes mesmo do iPhone. Em dezembro de 2006, a fabricante sul-coreana lançou o LG Prada - o iPhone só foi anunciado um mês depois. Porém, o aparelho criadoem parceria com a grife de luxo não trazia a opção de gestos “multi touch”, inovação que a Apple apresentou para permitir a possibilidade de “pinçar” materiais com os dedos. Assim, o Prada rapidamente foi engolido pela história e caiu no esquecimento.

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Com a chegada do iPhone, o mercado de celulares dividiu-se entre a nova categoria de smartphones (mais cara) e modelos mais antigos, que apostavam em formatos híbridos de touchscreen, canetas Stylus e teclados físicos em padrão QWERTY. Esse é o caso da linha LG Chocolate, que, em 2006, trazia o modelo de deslize (“slide in”) para separar a tela e revelar um teclado mecânico completo. Em 2009, o sucessor LG New Chocolate veio com maior altura, mais estreito e totalmente sensível ao toque, similar aos concorrentes recém-lançados.

Já a família LG Optimus, de 2010, tentou fisgar consumidores que buscavam pela primeira vez um smartphone, com câmera com até incríveis 1.080p (para a época, claro) e sistema operacional Android. A continuação dessa família levou a chips mais poderosos, com a inclusão dos processadores da Qualcomm, como o Snapdragon S4 Pro, com quatro núcleos. 

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Em 2012, a LG ficou responsável por fabricar os aparelhos da linha Nexus, telefones que levavam a marca do Google e serviam como uma espécie de vitrine da gigante das buscas para aquilo que ela imaginava para o Android. Depois de escolher fabricantes como a HTC e Samsung, o Google escolheu a LG para o Nexus 4 e o Nexus 5. O aparelho nasceu para se tornar um dos mais populares da empresa, reunindo em um só pacote tudo o que a companhia já vinha fazendo desde então. Era totalmente touchscreen, vinha turbinado com o sistema Android, trazia câmera de 1080p com gravação de 30 quadros por segundo (fps, em inglês) e tela de 4,95 polegadas. O nexus 5 chegou a ser vendido no Brasil, mas não fez sucesso. 

Em 2016, a LG experimentou com a ideia de celulares modulares, que permitia o encaixe simples de peças, como bateria e caixas de som, para melhorar e atualizar a experiência com aparelho. Embora elogiada pela crítica, a novidade foi pouco adotada pelos consumidores.

Mais recentemente, em outubro de 2018, o LG V40 ThinQ acompanhou as novidades do mercado: similar ao iPhone X, trouxe um entalhe na tela, muito mais discreto que o concorrente da Apple (já que não inseriu um leitor de reconhecimento facial), continuou a usar chips da Qualcomm (o Snapdragon 845), bateria de 3.300 mAh e tela de 6,4 polegadas. Ele apostava bastante também em inteligência artificial na câmera. O “pecado” dele era que não se destacava entre os concorrentes.

Apesar dos lançamentos de celulares topo de linha, a LG dedicou os últimos anos nas categorias de celulares intermediários e básicos. A escolha ajudou na popularização de smartphones pelo Brasil, mas, com a evolução do consumidor brasileiro para produtos mais sofisticados, a empresa começou a perder apelo e espaço. Nesse período de transformação, celulares básicos começaram a perder território para intermediários avançados, uma categoria na qual a LG não conseguia mais disputar espaço com Samsung, Motorola e a chinesa Xiaomi. 

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